Trabalhando Sociologia através do uso do Livro Literário em Sala de Aula
Maikon Bueno
            Tratar sobre sociologia e literatura parece por ser muito ambíguo, sendo que a literatura nem sempre é apontada como forma científica de conhecimento, e sim valorizada por ser uma forma fictícia de conhecimento, sua funcionalidade científica é discutida ao passo que ao exercitar a imaginação do leitor, este por assim flui e interage para com seu mundo real, a “entrega” é tanta que o leitor sente-se como parte da obra, como num exercício antropológico “estranha o seu familiar, e familiariza o estranho”, para tanto é necessário o professor saber como trabalhar o contexto epistemológico que determinada literatura possa lhe oferecer.
            O Livro Incidente em Antares escrito por Érico Veríssimo e publicado em 1971, apresenta uma obra valorizada em cima da cultura gaúcha do Rio Grande do Sul, sendo um dos autores que trabalham a expressão da sociedade através de seus personagens, Érico demonstra as diferenciações de classes, relações de poder e diversificados aspectos políticos e econômicos em caráter micro e macrossociológico, do Brasil, em sua obra traz consigo um sagaz método de assimilação entre culturas regionais e críticas a diversos fatores sociais da sociedade, como forma de crítica e conhecimento da estória do País.
            A Obra de Érico Veríssimo, Incidente em Antares, divide-se em duas partes, contudo uma interligada a outra, a primeira parte, denominada Antares é descrita em forma de diário, e apresenta o contexto histórico de uma cidade da fronteira do Rio Grande do Sul, chamada Antares, interligando com a estória do Brasil da época de 1830 a 1963, apresenta o desenvolvimento tanto agrícola quanto industrial do País e principalmente as dominações de poder, tanto nacional quanto regional, que apresentam-se de maneira legítima, pela dominação tradicional, racional e carismática (WEBER, Max. 1982), equivalendo-se de relações de conflito para com a tomada do poder e do espaço da cidade de Antares, sendo que através de conflitos entre duas famílias, os Vacarianos e os Campolargo, utilizam-se de métodos que buscam a organização a manutenção do Poder na cidade, partindo desde ameaças até assassinatos, demonstrando a capacidade humana de perfazer diversos métodos afim de concretizar seus desejos (MAQUIAVEL,N. 1998), e em caráter nacional a transformação política que vai desde ao período Imperial, perpassado pela República Velha, Era Vargas e pela Ditadura Militar.
            Na segunda parte do Livro, denominada O Incidente, Érico adentra ainda mais na natureza humana do homem, sendo que por intermédio do contexto nacional de lutas por direitos, a pequena cidade de Antares também é afetada de forma com que haja uma grande greve na cidade, no qual no mesmo dia sete pessoas acabam morrendo das mais diversas causas, e são proibidas de serem enterradas devido a adesão dos coveiros a greve, devido a isto, os mortos levantam-se e reivindicam seu direito ao sepultamento promovendo uma greve na praça central da cidade, e caso seu direito não fosse atendido ficariam na praça definhando e além disso contando sobre os mais diversos fatos envolvendo as relações de pessoas moradoras da cidade, que variam de casos políticos, corrupções até desafetos e vícios em geral, a provocação de Érico, equivale-se da arbitrariedade da capacidade humana de argumentar sobre os mais diversos fatores sociais que envolvem o homem na busca pelo poder e dominação, os mortos que não tem mais nada a perder, ao ameaçar contar o que sabem sobre estas relações, envolvem a todos da cidade em tom de preocupação.
 Sendo que o homem possui uma busca eterna pela sua autopreservação, sua autopreservação perpassa por demasiadas vezes, muito mais do que é necessário, fomentando o egoísmo e busca por um status, o Poder envolve o homem e o transforma em um ser ambivalente racional-selvagem, promovendo concepções da realidade social no qual a todos veem, mas ninguém o “vê. ”

Referências:

HOBBES, Thomas. Leviatã. Os Pensadores. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1997.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Porto Alegre: L&PM, 1998.

VERÍSSIMO, Érico. Incidente em Antares. São Paulo: Globo, 45 ed. 1995.



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